Liturgia
Liturgia, a definição de liturgia dentro do meio é a junção de regras, bases e protocolos que foram criados para deixar os itens do acrônimo mais seguro.
O que é o acrônimo?
A junção do BD DS SM.
Mas o que isso quer dizer?
Simples.
Vamos a definição da palavra “liturgia”:
“O vocábulo “Liturgia”, em grego, formado pelas raízes leit- (de “laós”, povo) e -urgía (trabalho, ofício) significa serviço ou trabalho público.
Por extensão de sentido, passou a significar também, no mundo grego, o ofício religioso, na medida em que a religião no mundo antigo tinha um carácter eminentemente público”.
Reparem que no sentido primitivo da palavra, liturgia significa serviço ou trabalho público, sendo aplicado posteriormente a religião, uma vez que a religião se tornou de caráter público.
Entendendo isso, passamos agora ao uso da palavra dentro do BDSM nacional:
Quando o BDSM foi criado, foi justamente para acabar com os abusos e desmandos do meio.
Como?
Criando regras, bases e protocolos para, justamente, acabar com esses tipos de problemas.
Lá fora, aquilo que aqui chamamos de liturgia, é chamado de regras e protocolos, e engloba, apesar das diferenças de nomenclatura as mesmas regras e bases.
Haaaaa mas Stavale, porque somente aqui no Brasil o termo liturgia é usado para definir o BDSM?
Existem várias teorias, uma delas é a de que a própria palavra liturgia acabou por ser usada, aqui, no sentido de tentar trazer uma visão mais ritualística para dentro do BDSM, tentando tornar o meio mais enigmático.
Outra teoria, da qual sou partidário, diz que, quando o BDSM chega ao Brasil, algumas pessoas cravaram o termo liturgia, por causa do período conturbado pelo governo militar, o que levou a trocarem os termos para evitarem algum tipo de perseguição.
De qualquer maneira, o próprio conceito de liturgia já deita por terra a primeira versão daquilo que alguns críticos falam, sobre ela ter que estar escrita para existir.
Em nenhum momento o termo liturgia, anteriormente a começar a ser usado pela igreja, diz que liturgia é algo que deve ser escrito, e essa é uma das alegações mais usadas para se negar o uso dessa palavra no meio.
Outra forma de se negar a palavra liturgia, é sob a alegação de que a palavra liturgia traz muito prejuízo para o BDSM, mediante suas regras e bases.
Vamos pensar um momento:
Como algo que foi criado para trazer mais segurança, pode trazer prejuízo?
Isso é verdade?
Dependendo de quem usa, sim. Para variar, no Brasil, vários termos são deturpados e com a palavra liturgia não poderia ser diferente.
Deturpada no sentido de, por exemplo, quanto ao uso da palavra Senhor (a), onde dentro da liturgia, usamos o honorífico para nos referirmos a qualquer TOP, no sentido de educação e respeito a hierarquia, e não como abertura para que ele comande a vida do bottom.
Falei sobre isso em outro post.
Então o tratamento de Senhor (a) é usado por respeito a hierarquia, ponto. E isso não dá nenhum direito a um TOP a quem o bottom não pertença, de lhe dar ordens.
Essa é uma das maiores reclamações que vejo sobre a liturgia.
Pois as pessoas acham que chamar o outro pelo honorifico vai lhe dar algum direito de mando e desmando.
E as próprias regras e bases, deixam claro que não é bem assim.
Haaaaa mas eu não sou litúrgico.
Não?
Você acha a safe direito do bottom?
Você é adepto do SSC, RACK ou PRICK?
Aceita o conceito dos tipos de relações EPE, TPE e PPE?
Acredita que o aftercare é um direito?
Estes são exemplos básicos de regras existentes dentro da liturgia.
Se segue qualquer um, ou mais deles, você é sim, um litúrgico.
O que me entristece é quando a pessoa vira e fala, mas você é muito litúrgico.
Peraí.
Tem algo errado nessa fala.
Por que digo isso?
Simples, porque se não fosse pela liturgia o BDSM não precisaria existir.
Então entenda, não é o BDSM que tem que deixar sua liturgia, ou como são chamados lá fora, suas bases, protocolos e regras para se adequar a você. É você que tem que deixar seu comportamento/visão abusivo e sexualizado de lado para se adequar ao BDSM, que sim, é litúrgico, porque se não fosse litúrgico não teria razão para ser criado.
Essa é sua função.
Simples assim!
Se você tem esse discurso de “haaaaa mas o BDSM dele é litúrgico e não serve pra mim” entenda, você não é praticante de BDSM, é fetichista.
E tudo bem.
O que precisam é parar com as alegações de que a liturgia não existe, mas existem as regras, bases e protocolos, porque lá fora é assim que é visto.
Precisam parar de “vender” o BDSM como uma moda, e aceitar que ele não é um modismo, usando-o para que possam satisfazer seu ego frágil e se dizerem pegadores. O BDSM é uma subcultura, um estilo de vida a ser vivido, baseado em regras e bases que tem seus fundamentos, como em qualquer outra subcultura ou estilo de vida.
Espero ter ajudado.
Beijos e abraços.
Dom Stavale